“O FAROL” – UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL PARA O GÊNERO TERROR! [CRÍTICA] – Download

“A solidão que fica e entra, me arremessando contra o cais”

                                                                                           Jessé.

 Por : Ricardo Árcoli.

Com esta frase da canção “Porto Solidão”, inicio a reflexão analítica de uma obra que surpreendeu-me em variados pontos de vista e causou-me uma inquietude sombria e desconfortante. Bem vindos ao “FAROL”.

Esta produção de 2019, escrita e dirigida por Robert Eggers (seu segundo trabalho depois de “A BRUXA”) e produzida pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, que já havia trabalhado com Robert Eggers no citado filme, é uma verdadeira viagem ao centro da loucura e um experimento cinematográfico ímpar e claustrofóbico sobre as condições impostas aos relacionamentos de convivência humana, tendo a clausura como background.

Somos devolvidos ao início do século XX para sermos testemunhas da história de dois faroleiros protagonizados por Thomas Wake (Willem Dafoe), um velho e ranzinza lobo do mar e pelo jovem ajudante Ephraim Winslow (Robert Pattinson) que fora contratado para ajudar nas tarefas diárias do velho farol, que fica em uma ilha isolada. Com o passar do tempo, confinados naquele espaço privado, os homens precisam aprenderem a conviver com o temperamento um do outro, ao passo em que fenômenos estranhos começam a testar a sanidade dos dois.

O filme, com ambientação gótica do final do século XIX, foi realizado em preto e branco, intensificando as sombras e o desconforto das imagens, mostradas de maneira desconcertante, pontuando o terror e a escuridão externa causada pelo efeito preto e branco, deixando tudo totalmente desprovido de emoção e remetendo-nos a uma atmosfera de melancolia e depressão sufocante. Já o som mono, deixa a experiência desconfortante e um sentimento de inquietude no ar, pelo menos para mim foi!

Os personagens de Pattinson e Dafoe estão sensacionais na pele dos faroleiros – que interpretação, meu Deus, que interpretação! Eles comem, dormem, bebem e trabalham com a pá escavando o carvão para alimentar o farol, ao mesmo tempo que “cavam” um ao outro em um antagonismo irritante entre diálogos desconexos, temperamentos singulares e convivência forçada. Falando individualmente, o personagem Thomas Wake, vivido por Dafoe, arrasa na interpretação do marinheiro velho e falastrão que comanda o farol e tem um verdadeiro fetiche pelo mesmo, não deixando que o novato se aproxime sequer da passagem que leva ao topo. Entre mandos e desmandos, ataques de fúria e constantes flatulências, que poderiam dar um ar cômico e absurdo ao filme, funcionam muito bem aqui, ao contrário do que foi mostrado pelo personagem de Jeremy Irons, que estragou uma cena da série WATCHMEN ao liberar seus gases em uma cena ridícula e totalmente fora do contexto (mostrando que até para isto, precisa ter estilo) Dafoe passeia por todas as camadas obscuras e surpreendentes que só a experiência de um mestre na arte de atuar é capaz de nos proporcionar, sou fã demais do cara!

Robert Pattinson nos faz esquecer daquela atuação hipócrita de vampiro purpurinado e sem sal ou sol, pois aqui, o cara manda bem e muito bem! Estou entregue a atuação do moço, que pegou a responsabilidade e deu conta do recado magistralmente, nos convencendo em TUDO, desde a atuação fenomenal que ia do cara contido e centrado, a um louco e caricato ser, destruído pelo confinamento e pela tirania de seu empregador! Sem palavras para o NOSSO NOVO BATMAN, que pelo menos, minha benção já tem!

O FAROL é um filme sobre homens e solidão, em ritmo lento e com terror psicológico e subjetivo, que deixa mais dúvidas que respostas no ar, com imagens enigmáticas em que realidade, loucura, medo e uma curiosidade mórbida, nos força a continuar assistindo, mesmo sem entender realmente o que estamos vendo! Durante toda produção, somos hipnotizados pela luz mística e pelo prisma magnífico do farol, que dão um toque necessário e mostram, de maneira metafórica, que a “real luz no fim do túnel” das agruras vividas pelos personagens principais, pode ser também, sua mais assustadora perdição! Assistam e me digam o que acharam deste, que para mim, foi uma das maiores revelações de 2019! Um abraço!

Assista ao Trailer:

Link para baixar o filme:

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