Por: Ricardo Árcoli
“Nada de gula ou fome, uma irmandade de Homens”
John Lennon.
Um filme que está dando o que falar e que estreou no dia 20 deste mês na Netflix, mexe com a cabeça e com o estômago do telespectador. Vamos falar de “O POÇO.”
“EL HOYO” ou “O POÇO,” é um filme espanhol dirigido pelo estreante Galder Gaztelu-Urrutia, que mandou muito bem em sua primeira experiência cinematográfica, diga- se de passagem, e se passa em um futuro distópico, mais precisamente em um sistema prisional vertical, onde os presos são designados para um determinado nível e forçados a racionar alimentos a partir de uma plataforma que se move entre os andares. O Poço é uma alegoria social sobre a humanidade em sua forma mais sombria e faminta.
Resolvi assistir a este filme em meu período de quarentena pois, além de falar de clausura e racionamento, coisa que teremos de passar – sem loucura, é claro – é uma produção espanhola e tenho assistido a verdadeiras pérolas deste cinema e esta produção, com certeza não me decepcionou!
Como a crítica aqui é sem spoilers, vou apenas trabalhar em cima de uma camada mais simples que é a da luta de classes e algumas metáforas acerca das mesmas. Queria começar destacando a excelente atuação de Ivan Massagué que interpreta Goreng, um homem que deseja parar de fumar e ler sua edição de “Don Quixote” e por isto, entrou no “Poço” por vontade própria, sem saber ao certo o que acontecia nesta prisão vertical com centenas de andares.
O filme é uma mistura de ficção científica, suspense e drama reflexivo que aguça muito a nossa atenção na busca de detalhes tanto no roteiro super elaborado, quase poético, quanto nas atuações que são formidáveis e quase simétricas para nos deixar totalmente desconfortáveis e por vezes, famintos pelo que a cena seguinte irá desvendar. O cenário frio e simples dão a impressão de solidão, abandono, incerteza e doença, já que tudo acontece em um cubículo que mostra uma paleta cinza, vermelha e azul dependendo de determinadas ações e distúrbios psicológicos que são constantes, dada a situação em questão!
O filme tem uma carga de Gore muito boa e conta com cenas de canibalismo e sofrimento exacerbado, portanto, não é um filme para qualquer paladar e por este motivo, não é indicado para quem tem certa sensibilidade.
Aqui, vemos a batalha do egoísmo humano versus a solidariedade, pois em muitos momentos gráficos, podemos perceber parte dos pecados capitais explícitos na Gula e na Ira, bem como a total falta de amor ao próximo e do senso de fraternidade. O final é totalmente aberto, o que agrada aos pensadores e teóricos da conspiração, mas pode ser indigesto para o grande público que espera um desfecho mais coeso e “pé no chão” e que não é adepto a subtextos e camadas aprofundadas. Eu adorei o filme e fiquei meio perplexo com o final (que ainda estou trabalhando para tentar entender) mas no todo, “O POÇO” é uma ótima produção que merece ser vista, discutida e analisada. E você, já viu este filme sobre a vitória da solidariedade? Se viu, manda um comentário para que possamos desfrutar de um bate papo bem gostoso! Valeu!
Ficha Técnica:
Título: El Hoyo (Original)
Ano produção: 2019
Dirigido por: Galder Gaztelu-Urrutia
Tempo: 95 minutos
Classificação: 18 anos